DOIS ANOS SEM CANNABIS - À Economia do Amor - @OutraLeiBrasil (primeira parte)

Jakeline De Souza
souzajakelinede@gmail.com
Manaus, 22 de julho de 2019.

Por motivos exclusivamente econômicos e políticos estou há dois anos, desde 20 de julho de 2017, abstendo-me de usar maconha, djamba, dirijo, Erva de Santa Maria, ganja, Cannabis. Abstenho-me de usar Cannabis pelo direito constitucional do povo brasileiro legislar como POVO SOBERANO e pelo nosso direito ancestral à Vida, até que nossa lei de iniciativa popular, que decide a "AMPLA LEGALIZAÇÃO DO CULTIVO DA CANNABIS EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL", entre em vigor subscrita por nós,  o povo brasileiro, dois milhões de vezes.
Ontem, 21 de julho de 2019, escrevi no face-armadilha: com essa falta geral de dignidade meu único prazer é minha dignidade. Escrevi porque faz quatro anos que iniciei o trabalho por nossa lei e estava pensando no que aconteceu ao curso dos dois primeiros anos da coleta de assinaturas, especialmente quando algumas pessoas tornaram o fato de eu ser "maconheira", usuária de Cannabis, uma justificativa para desmoralizar a mim e ao trabalho que estou realizando com o argumento: "você está defendendo essa lei porque é viciada", sugerindo que faço esse trabalho para amenizar uma condição de desmoralização por uma suposta dependência física, ou psíquica, do consumo de Cannabis. Por isso decidi pela abstenção, para afirmar de modo incontestável que eu sou usuária, "maconheira", e não sou "viciada".
Apesar de considerar a posição e comportamento dessas pessoas desprezíveis, não são ignoráveis. E, esse tipo de inferência afeta, se não pela qualidade das circunstâncias,  pelo preconceito que ainda exiata, é pela má fé dos que me atacaram, à medida que essa argumento, "viciada", foi usado contra mim mais vezes do que sou capaz de aceitar. Como resultado amadureci a ideia de abster-me de Cannabis até nossa lei de iniciativa popular entrar em vigor. E nossa lei entrar em vigor tem como caminho a coleta de 1% das assinaturas do eleitorado nacional, conforme a Lei 9.709, o que hoje calculo ser pouco menos de DOIS MILHÕES DE ASSINATURAS. Assim, o estopim da minha abstenção do uso de Cannabis foi uma guerra de nervos que se transformou em uma guerra pessoal contra a hipocrisia e a minha vitória, aqui, é certa.
Assumir a abstenção do uso de Cannabis por motivos econômicos e políticos, hoje, é marco referencial para mim na trajetória do trabalho por nossa lei de iniciativa popular. Hoje, se alguém falar publicamente de novo que sou "viciada", de modo que eu possa comprovar que a pessoa falou, vou processar a pessoa e divulgar o mais amplamente possível o fato, pois, estou há dois anos sem usar Cannabis, portanto, não posso ser "viciada".
Sou usuária, sim, com dois anos de abstenção por metas econômicas e políticas que entendo serem metas para o pleno desenvolvimento de nosso país e a ascensão de nosso povo à mais elevada qualidade de vida humana nesse mundo. Conto aqui a história de abster-me de Cannabis porque sei que essa posição fortalece todo o trabalho, a coleta de assinaturas, as referências para nossa campanha e faz bem a todas as pessoas usuárias de Cannabis, como está fazendo para mim. Basta que uma pessoa entre nós assuma a abstenção econômico-política de Cannabis e todas/os nós temos essa referência para calar quem tenta nos atacar pelo mesmo motivo que fizeram comigo. Tenho satisfação ao dizer que esta é a mais prazerosa abstenção que assumi na minha vida, e considero essa satisfação indicadora de que estou no caminho certo, deve ser como transformar demônios em escada para o paraíso. Que seja!
Minha abstenção do uso de Cannabis converge para o sucesso de nossa lei de iniciativa popular, pois a sensação,  sentimento,  é de que crio um espaço para relações onde consigo compartilhar amor pela economia e pela política em nosso país. Abster-me de usar a planta Cannabis é sobretudo economia como ato de amor. Brindemos à Economia do Amor, ela existe.
Amor e prazer são privilégios de poucas pessoas quando falamos em relações econômicas e políticas em nosso país, assim como, em todos os estados com os ditos "representantes políticos" decidindo as vidas dos povos sem que os povos possam vetar o que esses "representantes" decidem, como ainda acontece aqui no Brasil.
A dignidade, respeito, economia e política num Estado de exercício pleno do poder soberano do povo sobre suas próprias vidas são conceitos interdependentes. Imagino como deve ser na Islândia esse sentimento... tenho vontade de ver o amor das pessoas de lá em relação ao seu próprio povo, ao seu país e à Humanidade, tenho certeza que é um sentimento diferente do que conseguimos vive/sentir,  hoje, aqui.
Hoje, por aqui. vemos o amor nosso por nós, por nosso povo e país, sobreviver como o musgo sobrevive no lixo flutuante nos igarapés de Manaus, na água fetida da Ilha do Governador, ou no Riacho Ipiranga, em Porto Alegre. Então, precisamos mudar nossas referências. É assim que chego ao dia de hoje. Cambiemos, pois.

Implicações legais para o consumo de Cannabis

Para a legislação brasileira, o resultado NEGATIVO do exame que verifica a presença de tetrahidrocanabidinol (THC) nos nossos corpos, obviamente, define que uma pessoa não usa Cannabis, o que torna impossível a caracterização de dependência. THC é uma substância da Cannabis e o exame laboratorial identifica a presença, ou não, de THC nos nossos corpos. Esse exame serve para diagnosticar quando uma pessoa usa Cannabis há, pelo minimo, 3 meses, e, pelo máximo, 6 meses. O tempo de eliminação do THC pelo corpo pode variar por fatores como a quantidade de Cannabis usada, entre outros. Esse tipo de exame, aqui no Brasil, é exigido em alguns concursos públicos nos quais a aprovação da/o candidata/o no processo seletivo depende do resultado do exame. Se o resultado for positivo, se for encontrado THC no corpo da/o candidata/o, a pessoa é eliminada do concurso.
Bom, o que interessa para mim aqui é que uma pessoa comprovadamente sem THC no corpo não pode ser chamada de "viciada". Ou seja, no meu caso, sou usuária de Cannabis e isso não significa que sou "viciada" em Cannabis. Assim, abstenho-me de usar "maconha" até a data em que nossa lei de iniciativa popular para AMPLA LEGALIZAÇÃO DO CULTIVO DA CANNABIS EM TERRITÓRIO NACIONAL entrar em vigor.
Assumi publicamente esse compromisso dois meses depois da situação que foi o estopim para decidir pela abstenção do uso de Cannabis. A primeira vez que falei sobre isso oficialmente foi na palestra que proferi no auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas, na XI Semana Acadêmica de Ciências Sociais, no dia 18 de outubro de 2017. Anexo o link aqui https://youtu.be/h27GgUirjhg.

Mas, como essa história começou? E, quais os resultados desses dois anos de abstenção? Afinal, sou a principal responsável pela coleta de assinaturas para nossa lei de iniciativa popular, e, também, organizo a @RedeDasCasasDaDemocraciaDiretaNoBrasil; sou idealizadora e fui @ principal marchante na Marcha Xingu Vivo, que deu origem a este blog, e começou a ser idealizada durante a #AcampadaFloripa, #OcupaFloripa, um acampamento que reuniu cerca de quarenta #IndignadosFloripa-Br, uma das #OCUPA no Brasil de outubro de 2011, que fez parte do movimento de ocupações de espaços públicos no mundo pela organização dos povos para descentralização dos poderes econômicos e políticos, e iniciou na Espanha com o nome de acampadas. Esse momento é mais que outro capítulo de uma história a ser escrita. São muitas coisas por contar sobre o que gerou, diretamente, todo um conjunto de ações pelo exercício pleno do direito do povo brasileiro à soberania.
Desde então trabalho para nosso povo exercer seu poder soberano sobre nossas vidas, ou seja, para vetar e aprovar leis por SOBERANIA POPULAR, que é o princípio mais fundamental da democracia, "direta/real", e significa o poder do povo acima de todos os outros poderes.
Por todos esses motivos, e outros não mencionados, tenho que compartilhar a história da abstenção econômico-política para o uso da Cannabis, que será apresentada em partes para o texto ficar mais curto. As amigas/os falaram que o artigo anterior ficou longo demais. Sigo o texto em duas partes conclusivas, ainda que continuadas.

Comecei a usar Cannabis em 2006, depois da legalização do consumo no Brasil, durante o segundo semestre do meu doutorado em Antropologia. Antes disso, tinha experimentado mas foram poucas vezes em situações excepcionais. Assim, de 2006 a 2017, usei quase ininterruptamente a planta. Talvez alguém presente naquele momento pudesse, hoje, permitir eu mencionar seu testemunho, mas, acho que todos entendem que esse tipo de testemunho ainda não é fácil conseguir. Então, não menciono situações e nomes, desisto de um testemunho. Vamos direto ao dia em que iniciei essa abstenção econômico-política de Cannabis.

Em 20 de julho de 2017 estava morando em Santa Teresa, cidade do Rio. Já tinha entregado a casa que alugava em Florianópolis e conseguia pagar o menor quarto da Villa Alice. Vesti minhas roupas velhas e feias, que tenho vestido nos últimos 4 anos, resultado da minha opção por trabalhar voluntariamente e com dedicação exclusiva. Dou esses detalhes porque dizem que a impressão visual pode gerar preconceito e isso ainda é uma verdade. Então, naquele dia vestia um macacão jeans, camuflado, surrado e com as bainhas rebentadas cobrido os joelhos. Tinha encontrado esse macacão na lixeira em frente a uma das ocupações que morei no Rio, a Moradia do Amanhã. A casa que me acolheu e protegeu minha vida, meus pertences, permitiu que eu permanecesse no Rio por cerca de cinco meses e continuasse trabalhando por nossa lei de iniciativa popular, é uma ocupação de pessoas sem teto.  Morar em uma ocupação sem teto só é permitido quando você é sem teto, uma pessoa que está morando nas ruas do Rio de Janeiro, ou seja, não existe outro lugar para você. Essa era a minha situação.
Continuando... vestia também uma camiseta regata laranja grafitada nas costas "Outra Lei", nos pés calçava um tênis furado e de péssima qualidade, e a minha face já mostrava o esgotamento físico dos tempos difíceis que vivi naqueles cinco anos pelo poder do povo brasileiro decidir nossas leis. Exceto 2011, quando iniciei o trabalho depois de concluir o doutorado, de 2012 a 2017 vivi com recursos escassos, o que ficou ainda mais difícil naqueles dois últimos anos por nossa lei de iniciativa popular, 2015-2017. Então, com a aparência de quem não tem dinheiro nem para comer e dormir em paz, "desprezível" para alguns bem diferentes de mim, fui coletar assinaturas nos espaços compartilhados de um dos prédios da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Naquele momento, falava com estudantes sobre nossa lei de iniciativa popular, sobre democracia no Brasil, sobre o povo brasileiro decidir as leis como única alternativa para o pleno desenvolvimento de nossa economia, sobre as dificuldades para encaminhar nossa lei para ser assinada por presas/os no Bangu, e também, sobre mudar as estratégias de trabalho para coleta de assinaturas, pois organizar uma rede de coleta de assinaturas no país por trabalho voluntário não estava funcionando.
Entre uma conversa e outra, coletava assinaturas de alguns estudantes. É nesse ambiente que um colega, um pós-graduado, um professor, com quem havia encontrado num evento de Antropologia do Mercosul em 2011, em Curitiba, intervém perguntando: "Tá explicando porque você tá fazendo isso pra legalizar a maconha?". É claro que eu saltei longe da pequenez no som das palavras dele. Minha resposta foi falar sobre o que considero o mais importante dos meus motivos: o paradigma da vida, em referência a nossa inteligência ancestral indígena, e que fundamenta nossa lei de iniciativa popular, ou seja, é simultaneamente referência para a lei e para a superação de nossa condição de povo escravo, administrado por quem faz as leis que somos obrigadas/os a obedecer, o que tenho resumido com as palavras: NOSSAS LEIS, NOSSAS VIDAS.
Quando comecei a falar sobre a origem histórica do paradigma da Economia de Escravização dos Povos, e explicitei a continuidade dos impérios, hoje, nas repúblicas representativas, de uma perspectiva estrutural para as relações econômicas, ele me interrompeu: "estou falando de você, dos seus motivos para legalizar a maconha", e isso virou uma discussão sobre o quanto eu, ou qualquer pessoa, é capaz, ou não, de ter a História da Humanidade como "seu" motivo. No meu entendimento, um infeliz conflito de quem é incapaz de ver além de seus próprios sentimentos de inferioridade, um tipo que, para sentir-se livre dessa inferioridade, projeta na Humanidade seus próprios sentimentos e diz: "o Ser Humano é incapaz", ou, "falso", "corrupto".
A discussão ficou cada vez mais desconfortável e quase sem sentido, até que ele colocou toda ênfase no seu objetivo: "ninguém respeita viciado, isso deve ser ruim, pra você...". Muito chato. Alguns estudantes ainda estavam assistindo aquela discussão, em meta-análise, psicoterapêutica, e alguns já tinham saído. Eu respondi a ele rindo é muito mais fácil parar de usar Cannabis do que fazer essa lei de iniciativa popular entrar em vigor. Então, ele replica: "Fácil falar. Talvez as duas coisas sejam impossíveis...".
Os dois, ou três, estudantes que permaneceram deviam ter cerca de vinte anos, provavelmente usuárias/os de Cannabis, apoiadoras/es da lei, e, no dia do aniversário de meu paí, vinte de julho, um desses acadêmicos que gostam da garantia do status, o que só um papel com tinta, um diploma guardável em uma gaveta, pode lhes oferecer, consegue mexer comigo e com todos os meus mais próximos, sem fundamento.
Como disse, eu já tinha sido chamada de "viciada" por algumas pessoas em situações diferentes. O primeiro foi um velejador de kitesurf em Florianópolis, um hipócrita que adorava exagerar no uísque e levava um baseadinho para suas conquistas eventuais, chegou a enviar-me uma conversa entre ele e outra pessoa, onde falavam sobre mim: a "maria maconheira". Ainda devo guardar em algum lugar o print da mensagem que ele me enviou. Isso foi em 2015, enquanto um surfista e um voador de asa, brasileiros respectivamente do Paraná e da Amazônia, estavam sendo fuzilados na Indonésia por tráfico de cocaína, outro capítulo dessa história, quando comecei a mobilização para nossa lei de iniciativa popular, durante a organização do primeiro evento em Florianópolis.
Também fui identificada como "viciada" por traficantes na cidade do Rio, isso era bem comum. Não sei como é agora, mas quando ia à "boca de fumo", em 2017, via os traficantes identificarem as pessoas para anunciar o que elas iam comprar, e "viciada/o" era o apelido para quem comprava Cannabis. Isso aconteceu em várias "bocas". Mudava de "boca" atrás de respeito, mas não adiantava. No total foram poucas vezes, considerando o conjunto das relações que estabeleci durante o trabalho foram insignificantes, mas o suficiente para eu amadurecer uma reação e uma resposta para dar um fim a esse tipo de situação.
E o momento para responder chegou. Minha resposta final para o colega foi um desafio: se ele repetisse a cena publicamente, a partir de novembro daquele ano, como tinha acabado de fazer, eu o processaria, com testemunhas. A resposta dele foi simples "Como você pode querer processar alguém? A verdade é o que você disse, você usa todos os dias. Ninguém pode ser processado por dizer a verdade.". Nesse momento assumo pela primeira vez a abstenção do uso de Cannabis até concluir a coleta de assinaturas e nossa lei de iniciativa popular entrar em vigor, não existe vício para mim, com a ênfase, repita e eu vou te processar. Ele deu as costas e a moçada perguntou se eu ia fazer isso, mesmo, de verdade. Dá gosto rir enquanto escrevo. Esse foi o estopim da minha minha abstenção econômico-política de Cannabis: estarmos intocáveis, impedir que nos desmoralizem, estarmos acima da hipocrisia e da maldade.
Em 20 de julho de 2019, dois dias atrás, aniversário do meu pai, completo dois anos de abstenção do uso da Cannabis e aproveito a oportunidade para homenagear um brasileiríssimo, gaúcho, "um filho da terra", que ficaria orgulhoso por mim, o que torna impossível não lembrar minha mãe, uma santa e bela catarina, que sentiria paz por minha decisão. Quase todas as mães não suportariam que suas filhas e filhos fizessem algo ilegal, no meu caso especialmente por colocar em risco a minha dignidade. Minha mãe sabia que minha dignidade é um "calcanhar de Aquiles" para mim, a parte do corpo de Aquiles que o levou à morte. Mas, penso que a dignidade talvez seja o nosso "calcanhar de Aquiles", quero dizer, de todo ser humano, porque viver sem dignidade é desumanizar-se, e desumanizar-se é um tipo de morte que atinge algumas pessoas rapidamente, como é o meu caso, e para outras pessoas essa mesma morte pode acontecer mais lentamente, mas a sensação que tenho é que a falta de dignidade mata a todos nós.
O respeito que necessitamos é um respeito vivo, um  respeito ao que somos agora,  neste momento, portanto, real, reconhecido por todos, pois não depende de títulos, é inquestionável porque abrimos os olhos e sentimos. Um respeito que nem a mais corrupta das almas consegue quebrar. Mas, esse não foi o motivo que me levou a redigir a ementa e assumir a coleta de assinaturas para nossa lei de iniciativa popular, como imaginou o colega. Ainda que faça parte do meu motivo e da abrangência de sua transformação, a humilhação contra usuárixs de Cannabis é apenas mais um dos males gerados pelo que me move a assumir o que entendo ser o caminho definitivo para superarmos 99% de toda a miséria humana. E, mesmo para a criminalização da planta, não considero esse ataque a nossa moral o pior dos males. Temos, agora, pessoas condenadas pelo crime hediondo de tráfico de Cannabis, e muitas perdem suas vidas em condição de desgraça. Isso significa mais de 60% da população carcerária feminina no Brasil, e 26% dos homens privados de liberdade, segundo os dados do INFOPEN de 2016,. Não sei porque ainda não divulgaram 2017 e 2018... aqui o link... http://depen.gov.br/DEPEN/dispf/spf_anuario
Para ver um pouquinho do que estou falando, assiste esse primeiro vídeo logo abaixo deste parágrafo. Esse vídeo mostra São Luís, Maranhão, em 2016, quando foi anunciado nos jornais das tevês abertas que a cidade registrava o maior número de homicídios por mês no país, o que tornou São Luís, naquele momento, 'a cidade mais violenta do país". Esse é outro capítulo da nossa lei de iniciativa popular. De maio a outubro eu morei no Bairro de Fátima, onde tínhamos mais de um assassinato por dia. É claro que isso mudou de modo impressionante durante esse período de minha permanência, o que faz entender que nossa lei de iniciativa popular é uma chave para o fim da violência em nosso país. E eu estava lá, com as famílias dos condenados por esse "crime hediondo",


Você pode encontrar um pouco mais sobre isso nesse blog, no artigo da XI Semana de Ciências Sociais da UFAM.

A lei para "AMPLA LEGALIZAÇÃO DA CANNABIS EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL", por soberania popular e inteligência ancestral, para a qual estou coletando assinaturas, resulta de motivos enraizados em questões mais amplas do que uma minha vida individual ensimesmada, ou, do que a desmoralização social implicada, hoje, no fato de eu ser usuária de Cannabis. Quero dizer, meus motivos estão no que entendo ser as origens de nossos sofrimentos e dos sofrimentos das pessoas que amamos, de modo generalizado, e isso tudo só é acessível para mim porque faz parte da minha própria vida, é claro. No entanto, acho que não existe alguém com mais de 30 anos nesse país, hoje, que conseguiu viver sem sofrer, em maior ou menor medida, os impactos dos motivos que me movem a realizar esse trabalho, e resultam em marcas muito feias nas nossas histórias de vida pessoal. Os sofrimentos resultantes dessa economia e política não são privilégios meus, infelizmente.
Há dois dias atrás escrevi no face-treta Nosso povo decidir leis é viver sem ver pela janela a miséria, a falta de dignidade e a violência, a caminho da minha porta. Quero dizer que não acredito que alguém seja capaz de alcançar felicidade individual nas nossas condições. Eu não consigo. O sentido constante da ameaça não permite a felicidade. E, pior, sentir sua felicidade ameaçada ainda é um privilégio. Desgraçados, mesmo, de verdade, são os que vivem na miséria física e psíquica, na doença, sob a violência e castigo de seus corpos. E todos os dias vemos as fezes emergirem em quantidades insuportáveis para quem acredita na felicidade, ou, para quem entende que somos muito mais do que essa condição miserável que ainda vivemos.
Tenho afirmado, sim, que estarmos num processo avançado de desconstrução dessa violência para a centralização do poder econômico, portanto, da miséria, da corrupção, da mentira, como estratégias de sobrevivência usadas por todos os povos que vivem sob "representantes políticos" [Nota 1], torna o respeito vivo, verdadeiro e geral, por honra e dignidade, exceção. Raras pessoas conquistam esse respeito, especialmente por parte de um povo castigado, como é o caso do povo brasileiro. Então, abster-me de usar Cannabis é um prazer imensurável porque faz de mim uma pessoa com o poder de convergir para si esse respeito.
Não posso ser "viciada" em uma planta que não consumo há mais de dois anos. E minha experiência com esta planta faz com que eu questione se a planta vicia alguém, ou, simplesmente, as relações de dependência são resultadas de necessidades terapêuticas.
Pessoas com problemas diversos dependem de Cannabis para sentirem-se melhor. Hiperatividade, irritabilidade, ausência de fome, problemas no aparelho digestivo, dificuldades para dormir, entre outros tantos sintomas são motivos para dependência. Mas, é bom reconhecer que existem pessoas que prezam o prazer, apesar de viveremos num mundo ainda desequilibrado, e esse é o meu caso. Neste caso, se alguém tentar desmoralizar meu trabalho pela legalização da Cannabis, ou a mim, pelo fato de eu ter prazer em usar a planta, então, esta pessoa merece pagar uma condenação processual por danos morais.
Confesso que tenho outros prazeres como beber um bom vinho, uma cerveja com amigos, sempre em pequenas e suportáveis doses para meu estômago sensível ao álcool. Gosto também de petã, muhró, benehé, respectivamente em Guarani, Tukano e Yanomami significa tabaco. E, hoje, sinto mais falta de churrasco de carne do que de Cannabis, mas, comemoro os benefícios físicos da abstenção, porque livro meu corpo da nefasta gordura da carne. No caso da Cannabis também comemoro benefícios físicos, senti meus pulmões livres da fumaça venenosa produzida pelas misturas tóxicas que vem em grande parte dos prensados vendidos nas "bocas de fumo". Exceto em raríssimas exceções, a Cannabis vendida pelo "crime hediondo de tráfico de drogas" vem com outras substâncias usadas, inclusive, para disfarçar o cheiro, porque no nosso país tráfico de Cannabis é crime hediondo, e os únicos que estão absolutamente livres de serem condenados pelo crime hediondo de tráfico de Cannabis são os que pertencem ao pequeno grupo de privilegiados que, hoje, ganham muito dinheiro com a indústria farmacêutica. Poder econômico é, e sempre foi, a origem da criminalização de plantas, e isso nada tem a ver com segurança ou saúde públicas. Somos adultos, crime é assumirmos a posição de idiotas.
No dicionário encontramos: "viciado - o que se tornou moralmente degradado, depravado,  corrupto", e no latim, da etimologia da palavra, "vitiãtus, um estragado".  Ora, eu que trabalho voluntariamente e com dedicação exclusiva para superar esse sistema político de "representação" que defendo ser necessariamente corrupto, sou chamada de corrupta. Respeitemos o dicionário, fui chamada de corrupta e não é possível aceitar uma estratégia sórdida de desmobilizar/enfraquecer o trabalho que realizo por tão pouco.
O desprazer de ser desmoralizada foi infinitamente maior do que o prazer de usar Cannabis, infelizmente. E foi assim que assumi me abster do uso da planta por motivos econômicos e políticos, após um colega da academia argumentar que o "meu" motivo para estar coletando assinaturas por uma LEI DE INICIATIVA POPULAR PARA AMPLA LEGALIZAÇÃO DO CULTIVO DA CANNABIS EM TODO TERRITÓRIO NACIONAL seria o fato de eu ser uma "viciada". Uma ótima oportunidade para eu mesma descobrir que minha maior dependência é minha dignidade. E essa hipersensibilidade para a necessidade de manter minha dignidade intocável tem outras razões que vem, especialmente da minha vida profissional nos últimos 10 anos, uma outra história.
Para o texto não ficar longo demais termino essa redação aqui. Seguiria falando sobre os resultados da minha posição, até o momento, para a abstenção do uso de Cannabis como parte da AMPLA LEGALIZAÇÃO DO CULTIVO DA CANNABIS EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL, pelo poder soberano do povo brasileiro e por lei ancestral indígena a afro.

Link para o PDF da ementa de nossa lei de iniciativa popular, com o formulário, para ser assinada: https://drive.google.com/file/d/0B9zZSgYguE-rNUtoQkpTSVJXMXc/view?fbclid=IwAR0zrCfSvfQHCZ8QDYVaxqfym-WF-X2SGlJGca97JXkuosYT0UozvKszVQo

"eu quero é botar meu bloco na rua"
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Última revisão em 26 de julho. 02:33, horário de Manaus.


Nota 1 Para entender o que estou falando quando uso a categoria povo, veja o artigo: XI Semana Acadêmica de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Amazonas - Nós Somos o povo brasileiro;  publicado neste blog   https://marchaxinguvivo.blogspot.com/2019/06/no-brasil-politica-funciona-assim-ou.html

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