COVID-19: "Decifra-me ou devoro-te".

COVID-19: "Decifra-me, ou devoro-te".

Jakeline De Souza
souzajakelinede@gmail.com

Nossa realidade hoje a partir dessa pandemia fez-me lembrar o duelo entre Édipo e a Esfinge. É um prazer conhecer essa história. Ouvir o abominável a partir da mitopoética faz o horror parecer imaginário, e realmente necessitamos enfrentar o horror com a mesma tranquilidade com que ouvimos sobre o duelo entre Édipo e a Esfinge. A morte não existe porque tudo é uma metáfora.
"Decifra-me ou devoro-te", o monstro diz para a alma predestinada, e um amontoado de corpos devorados compõem a paisagem.
Não podemos ignorar que existe um vírus, mas também não podemos ignorar que existem relações econômicas abomináveis, quero dizer, canibais, e, sim, questionamos em que medida alguma coisa pode ser criação dessas relações econômicas. Questionar relações corruptas é inevitável. O que tenho colocado em evidência é até onde somos capazes, temos a capacidade, de interagir, até onde podemos indicar os limites máximos de nossa desconfiança, e, especialmente, existe a possibilidade de alguma autonomia? Se existe, qual, ou, quais possibilidades de autonomia, é, são essas?
Sim, um amontoado de corpos devorados são exibidos todos os dias na paisagem da pandemia. E, decifrar o enigma é o maior desafio, porque esse monstro revela uma realidade cotidiana, nossa, de muitas faces. Nossas relações econômicas são monstruosas. Em quem confiar? Qual o limite da maldade nessa economia sustentada por esse sistema de "representação política"?
Sim, essa pandemia mobiliza nossas vidas e inevitavelmente transforma-se num catalizador de boa parte das desgraças que vivemos. Da corrupção no sistema de saúde à impossibilidade de confiar nas relações econômicas, quer seja dentro ou fora do Brasil.
Então, as relações econômicas significam remédios, hospitais, trabalho, alimentos, gasolina, aluguel, auxílio emergencial, e tudo isso, entre outras coisas, está relacionado diretamente a nós, e significam relações políticas.
Claro que esse monstro nunca foi apenas um enigma, e nunca será resolvido a partir de uma resposta a um enigma como uma outra narrativa. Desde sempre essa economia e essa política estão com suas patas devorando-nos da dignidade ao tempo de vida. A cada dia nosso tempo de vida diminui aceleradamente em relação ao que esses nossos benditos corpos, quando levam uma vida saudável em todos sentidos, têm por desfrutar.
Então, a alma predestinada decifra o enigma, e, é claro, tendo decifrado o enigma, o monstro não se rende à resposta porque é o embate corpo a corpo, a luta física, o devoramento de corpos pelo monstro que dá sentido à mitopoética, quero dizer, que torna a narrativa mítica uma ilustração da nossa realidade cotidiana. Se ninguém morre desastrosamente, não parece que somos nós.
No mito, Édipo, a alma predestinada, põe fim ao monstro. E é na vitória de Édipo sobre o monstro que eu insisto: nós temos um embate escancaradamente corpo a corpo entre nós e os interesses mais abomináveis e fundadores desse sistema de "representação política": a economia.
Que nós somos mercadoria, dados de produção e consumo, objetos administrados por mentes psicopatas, isso nós já sabemos. O que nós não sabemos é sobre os limites da maldade dessa gente, e os níveis de submissão de quem atua nos mecanismos físicos que sustentam esse sistema. Sim, nós precisamos de dignidade como uma alma perdida por dias no deserto precisa de água. Nós estamos morrendo e a nossa única e verdadeira fonte de água limpa é a dignidade. Enquanto estivermos submetidas a esse sistema de "representação política", necessariamente corrupto e genocida, nós não teremos como intervir nessa canibalização de corpos, por que a Esfinge que nos ataca são seres humanos, e quando um ser humano toma a vida de outro ser humano para o sustento de sua própria vida, mesmo que não seja a carne na boca, sim, isso é canibalismo, o abominável! Decifremo-lo, ou continuamos sendo devoradas, e nossos corpos, nossas vidas, são parte de mais de cinco mil anos de um cenário genocida, canibal, monstruoso, abominável (veja, nesse blog "Representação política é uma variação do canibalismo").
A fonte de inspiração para escrever esse ensaio foi a publicação do link no final do texto (está como legenda da imagem deste ensaio), foi postado por uma conexão minha que mora no Paraguai, nasceu na Alemanha, e tem publicado muitas análises para relações internacionais, e foi o que me inspirou a escrever o ensaio acima. Essa conexão no Facebook, rede social que tenho privilegiado desde que comecei a trabalhar pela superação da "representação política" no Brasil, surgiu a partir de um conhecido, também nascido na Alemanha, que esteve hospedado num mesmo hostel que eu em Manaus, no segundo semestre de 2019. Acho que nos tornamos amigos após nosso reencontro, que aconteceu no Rio de Janeiro, no mesmo ano, quando ele me passou esse contato por entender que eu poderia tirar proveito dessa conexão. Acho que ele tinha razão. Bom, tenho realmente mais coisas para escrever. Aliás, o motivo que me fez iniciar esse texto não foi mencionado... então, tenho coisas para escrever. Quem quiser conhecer o grupo NÓS QUEREMOS VETAR E VOTAR LEIS SEM "REPRESENTANTES POLÍTICOS", no faceb, acessa ele aqui https://www.facebook.com/groups/nosqueremosvotarevetarleissemrepresentatespolticos

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