"Esse filme foi produzido em 1997, "Buffalo Soldiers", Soldados Búfalos. Trata sobre uma realidade histórica vivida na "república representativa" dos Estados Unidos, por volta de 1870. Os Soldados Búfalos existiram e eram a Cavalaria Negra do Exército dos Estados Unidos. Eram a Cavalaria Negra que atacava indígenas sob as ordens da "república representativa", na segunda metade do século XIX.
Vamos ver essas relações dessas gentes vindas de lugares diferentes para cá desde o contexto histórico e político desses povos que vieram, como eles se acomodaram às novas formas de organização política encontradas. Para ser irônica, digo que essa película é a representação perfeita das condições em que acontece a mistura entre povos surgidos em continentes sem comunicação entre si. Existem muitas etapas da miscigenação nestes últimos 5 séculos, a segunda metade do sec. XIX, nas fronteiras com o México, certamente foi um momento difícil. Digo isso porque os povos originários, deste continente em que vivo, foram e são identificados como receptivos às diversidades humanas, apreciadores das diversidades vivas e precisamos dar atenção pro fato dos outros povos trazerem para cá as práticas corruptas da centralização do poder, herdadas dos impérios, heranças que ainda suportamos e isso contrasta com as formas de vida social indígena, até a morte. Por não suportat maid, hoje, aqui, nós propomos o fim dessa centralização do poder. Então, hoje, não enforcar uma criança indígena, não destruir as matas da floresta, não permitir a humilhação entre nós, significa realizar a mudança do sistema político no Brasil, ou seja, o fim do poder arbitrário dos ditos "representantes políticos" sobre as nossas leis.
Essa centralização do poder sobre nossas vidas tem suas origens. Quando esses outros povos chegaram aqui, eles já viviam como monarquias europeias, antes delas eram os terríveis impérios que viviam de violar fronteiras. As monarquias esforçavam-se por estabelecer fronteiras fixas, inclusive nas colônias, fronteiras fixas com povos subjugados. Os reis eram "representantes do povo escolhidos por Deus". Então, o que estou tentando dizer é que os povos que chegaram eram diferentes dos que os receberam aqui, especialmente sua economia entre humanidades e em relação ao ecossistema. Hoje são 500 anos aqui no nosso Continente. Hoje nós nos distinguimos pela mistura entre gigantes populações de diversos povos da Humanidade. Tenho lembrado às pessoas no meu dia a dia que isso nunca aconteceu com a espécie humana desde sua origem, portanto, estamos verdadeiramente descobrindo nossas possibilidades. Nós temos o DNA de todas as grandes civilizações da Humanidade pela primeira vez misturado a partir de gigantes populações, desde nossas origens. É importantíssimo lembrar que, assim como a Cavalaria Negra, os Apaches Vitório e Nana também existiram e fazem parte de histórias que merecem destaque, mas neste filme o foco é outro. No filme vemos rupturas com as expectativas dos "brancos dominantes", essas rupturas se dão no completo enfrentamento Apache e na autonomia política dos Soldados Búfalos como grupo que se auto identificava diferenciado a ponto de criar sua própria orientação e verdade como única alternativa de sobrevivência às relações nesse encontro. Essa representação das relações entre negros, índios e brancos toca as nossas peles arranhadas no dia a dia do século XXI, porque nós ainda sofremos conflitos herdados dessa estrutura econômica e política baseada no poder sobre as vidas dos povos. Da dita "escravização das monarquias" aos processos de "integração" das "repúblicas representativas", o poder sobre a vida dos povos está nas mãos de poucos que consomem essas vidas a partir da submissão pela violência física e psíquica. Uma espécie de Economia Canibal. Isso é um horror e é a nossa realidade. O filme mostra estratégias das populações indígenas e negras à dita "integração" à "república representativa" dos Estados Unidos. Ainda vivemos a condição de ameaça, mesmo que cada vez mais misturadas/os e conscientes. E digo que manteremos essa ignorância enquanto mantivermos esse sistema de "representação política" corrupto e genocida, que se beneficia da exclusão e da miséria humanas. A representação fílmica também guarda as sementes mestiças que sobrevivem ao desprezo da negação e da "ausência de identidade", para aos poucos assumir seu lugar de verdadeira integração de todas as identidades. Isso parece asas de borboletas saindo do casulo, eu vejo a expansão da nossa consciência colorida e diversa sobre quem somos, nós, os povos deste Continente Ancestral Indígena, e, em especial, o povo brasileiro. Nossas fronteiras são políticas, a distinção étnica não é fronteira entre nós, pelo contrário, é o amor pela diversidade em nome da Vida. Das representações, filme também é representação. Manaus, 07 de julho de 2021."
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